Sou estudante do Curso de Estudos Eslavos da Faculdade de Letras de Lisboa e decidi criar este blogue, porque em Portugal, ainda se conhece pouco dos países eslavos. A minha ideia, é a criação de um espaço aberto à divulgação, à troca de informações, de experiências e ideias de tão belos países.
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24 de março de 2010

“Taras Bulba” de Nikolai Vasilievich Gogol


Extraordinário conto do escritor russo Nikolai Vasilievich Gogol, narra a épica luta dos resistentes ucranianos contra os invasores polacos, na qual se traça a figura marcante na personagem de um valoroso e velho cossaco e dos seus dois filhos.

De admiráveis contornos realistas, esta obra manifesta-se, ao primeiro alcance, como mais uma entre muitas épicas histórias de cossacos das estepes ucranianas, que se vêem confrontados com um inimigo mortal e que ao longo da narrativa o leitor é transportado, através de descrições alusivas às suas tradições, para o fantástico mundo da sua existência, das quais “Taras Bulba” faz parte por consanguinidade e analogia. As aventuras de “Taras Bulba” têm como pano de fundo as remotas e distantes estepes da Ucrânia. No intuito de preparar os filhos para a missão que os cossacos têm por tradição, o valente cossaco deixa para trás o lar e, com sede de peleja, parte com eles para se estabelecer no campo de treinos dos cossacos, o “Zaporojié”.

O conto retrata uma época distante, onde o Tártaro é visto como um potencial inimigo, tal como o invasor polaco, que aos olhos destes valentes guerreiros passa a ser o agressor da camaradagem e da fé cossaca.

O mais curto conto histórico de Gogol, tem duas versões, a primeira edição de 1835 é decididamente pró–ucraniana em temas e na história, a segunda edição de 1842 recebeu alguns acréscimos considerados pró–russos. O romance conta a história de um velho cossaco ucraniano “Taras Bulba” e dos seus dois filhos, “Andrei” e “Ostap”. Os filhos de “Taras Bulba” estudam na Universidade de Kiev e regressam a casa de férias. Daí os três homens viajam para a região de “Zaporizhia”, na Ucrânia, para se juntarem aos outros cossacos na guerra contra a Polónia.

A história de “Taras Bulba” é cheia de personagens que não são nem exagerados, nem grotescos, característica de todas as outras obras de Gogol. A história deve ser entendida à luz do movimento literário romântico nacionalista, desenvolvido à volta de uma cultura étnica, baseando-se nos ideais românticos.


Resumo
“Ostap” e “Andrei”, filhos de “Taras Bulba”, regressam a casa da universidade em Kiev onde estudaram.

O filho mais velho, “Ostap” é mais aventureiro, possui o verdadeiro espírito dos cossacos mas “Andrei” é profundamente romântico. Em Kiev, apaixona-se perdidamente por uma jovem nobre polaca, filha do Governador da cidade de Dubno, mas o curto namoro termina, quando a família da jovem regressa à sua cidade.

Como verdadeiro cossaco ucraniano, “Taras Bulba” pretende ver os seus filhos na guerra, pois os cossacos não eram considerados homens e não se casavam enquanto não terminassem o serviço militar. Os polacos, que ocupavam toda a parte da margem ocidental do rio Dniepre foram acusados de cometer atrocidades contra os cristãos ortodoxos, executadas com a ajuda dos judeus. Após o assassinato de alguns judeus nos arredores de Sich, os cossacos avançam contra o castelo de Dubno, e começam a cercar a cidade.

Uma noite, a empregada tártara da nobre polaca, pede a “Andrei” que ajude a salvar da fome, a família da sua namorada. Usando uma passagem secreta, “Andrei” leva pão à família da sua amada. Mais tarde ele trai os cossacos e passa para a parte polaca.

Numa das batalhas, “Taras Bulba” encontra “Andrei” vestindo o uniforme polaco e mata o seu próprio filho à queima–roupa dizendo: “Eu que te dei a luz matar-te-ei!”

O seu outro filho “Ostap”, após várias batalhas é capturado pelos polacos e prepara-se para ser executado em público.

Antes da execução, o judeu “Yankel”, a quem “Taras” salvou durante o massacre cossaco, concorda em levá-lo a Varsóvia para resgatar “Ostap”. Vestido como um conde alemão, “Taras” tenta salvar o seu filho da prisão, mas é reconhecido por um dos guardas, que o obriga a pagar 100 moedas de ouro para garantir a sua liberdade. Durante a execução, “Ostap”, como um cossaco que se preza não emite um único som, e apenas no fim pergunta retoricamente: “Pai, estás a ouvir-me?” Taras, escondido dentro da multidão responde que “Sim” e depois foge.

Os cossacos assinam a paz com os polacos, “Taras” mantém-se contra, pois perdeu os seus dois filhos por culpa dos polacos e obstinadamente leva o seu regimento para continuar a guerra contra a Polónia, mas é capturado em combate.

É atado a uma árvore e queimado vivo, gritando pelo Espírito de Rus.


Anti-Semitismo na obra
Na opinião dos escritores Felix Dreizin e David Guaspari no seu ensaio literário “The Russian Soul and the Jew: Essays in Literary Ethnocentricis” onde discutem o significado dos caracteres judaicos e da imagem negativa da comunidade judaica ucraniana no conto “Taras Bulba” de Gogol, afirmam que o apego de Gogol a preconceitos anti-judaicos, são prevalentes na cultura russa e ucraniana. No livro do escritor russo Leon Poliakov “The History of Antisemitism”, o autor refere que a personagem “Yankel” de “Taras Bulba” realmente tornou-se no arquétipo do judeu na literatura russa. Gogol retratou-o como sendo extremamente ridículo, explorador, cobarde, repugnante, mas demonstrando alguma gratidão, por esse motivo, é com alguma naturalidade que é encarado o seu afogamento pelos cossacos, no rio Dnieper.


Adaptação da obra no cinema
O primeiro filme, de 1909 é uma obra do cinema mudo, realizado pelo russo Aleksandr Drankov, o segundo, filmado em 1935 na Alemanha, pelo realizador também de nacionalidade russa Alexis Granovsky, o terceiro, em 1936 produzido pela Grã–Bretanha com o título de “The Rebel Son” (O Filho Rebelde). A produção americana de 1962, realizada por J. Lee Thompson, com famoso actor de origens húngaras, Tony Curtis no papel de “Andrei”. Em 2007, o realizador russo de origem ucraniana, Vladimir Bortko, reuniu vários actores ucranianos, russos e polacos para criar um épico da vida dos cossacos, um novo “Taras Bulba” adoptando a versão “pró-russa” de 1842. Filmado na Ucrânia, em locais como Zaporizhia, Khotyn e Kamianets-Podilskyi, com estreia marcada para o segundo semestre de 2009. Também na música, a obra de Gogol serviu de inspiração à criação de uma ópera pelo compositor ucraniano Mykola Lysenko e de uma rapsódia sinfónica para orquestra do compositor checo Leoš Janaček.

1 comentário:

  1. Olá.

    Cheguei agora. Também estudo Letras numa faculdade do estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
    Assim como pude perceber de você, também me interessa, sobremaneira, tudo que é relacionado ao mundo eslavo.
    Atualmente estou lendo "Guerra e Paz".

    Até outra hora.

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